domingo, abril 22, 2007

A TRAGÉDIA DE JÚLIO CÉSAR de William Shakespeare



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Tradução
José Manuel Mendes, Luís Lima Barreto e Luis Miguel Cintra

Encenação Luis Miguel Cintra

Cenário e figurinos Cristina Reis

Desenho de luz Daniel Worm d’Assumpção

Música original Vasco Mendonça

Elenco André Silva, Dinarte Branco, Dinis Gomes, Edgar Morais, Filipe Costa, Hugo Tourita, Ivo Alexandre, Joaquim Horta, José Manuel Mendes, Luís Lima Barreto, Luis Miguel Cintra, Luís Lucas, Martim Pedroso, Pedro Lamas, Nuno Lopes, Nuno Gil, Pedro Lacerda, Ricardo Aibéo, Rita Durão, Tiago Matias, Teresa Sobral, Tónan Quito e Vítor de Andrade.

Músicos Gonçalo Marques trompete, Marco Santos percussão, Nuno Costa guitarra.

Co-produção com o São Luiz Teatro Municipal


Foi há quatro anos que assisti à peça Tito Andrónico, da Cornucópia, na sala principal do Teatro Nacional D. Maria II. Nessa data percebi que Luís Miguel Cintra era um bom actor, apreciei o seu desempenho nesta peça que em parte marcou o desenrolar dos acontecimentos da minha vida.
A tal ingenuidade acerca da grandeza do encenador e actor Luís Miguel Cintra não fazia espécie de contraste acerca da autopercepção de valor e predisposição para disputar novos desafios.

Se muitas coisas diferentes hoje são, muito se mantém numa aparência de estacidade enganadora. Essa condição de dinâmica latente pode gerar uma leve descrença.
O nome deste blog: Formiguinha da Terra é uma homenagem a todos que persistem contrariar suas naturezas que por vezes pareciam ser impostas por outros, os cépticos.
Nessa época uma pessoa soube acreditar... uma professora em fim de carreira foi além de sua competência, soube dar amor. A dedicação, o mostrar que tudo seria possível, se déssemos tempo ao tempo, por ventura, o único e legitimo pedido: tempo.
A resignação deu lugar a um ambicioso projecto de vida que nestes dias vai dando os seus frutos.
Esta digna senhora recebeu pouco mais do que entusiasmo e correspondência aos seus bons conselhos.
Talvez uma vontade sua de auto-realização ou uma ideologia. Porquê nós? Nem todos podem ser os escolhidos. Eu fui.
A vontade própria aliada a alguém que insiste na revelação do nosso valor, mesmo que quase todos digam: "Não vai conseguir! O melhor é desistir!"
É por essa razão que essas pessoas, visionárias, embutidas de fé e esperança, sem fazerem perguntas, sem muito saber acerca de nossas vivências passadas geram autênticos milagres. É caso para afirmar que estas coisas simples têm um tremendo valor.

Andrónico foi tomado como louco numa loucura consentida, mas fingida.
Essa parte do texto é ainda recordada de forma entusiástica. No entanto parecia passados alguns meses vir sinais de arrependimento e pensar que assistir a esta peça tinha sido um erro.
Havia qualquer coisa a incomodar, uma querença crescente.
No palco da vida aprendiam-se coisas novas, por exemplo: a tolerância só existe quando não se incomodam os outros. Mais tarde o Dr. Laborinho Lúcio no Congresso da Prosalis desmistifica o conceito e sem tabus reforçou esta ideia.
As mudanças geram respostas abrasivas. Mas quando o sistema está viciado apenas conta sobreviver. Se Tito acabou a história vivo, já não tenho comigo essa lembrança, mas tenho a convicção que tudo fez para manter sua dignidade, mesmo pagando o preço mais elevado de todos: a sua reputação. O discurso contraditório servia para o tornar menos credível e como consequência foi alvo de chacota. Por fim salvou sua honra.

Da peça de 22 de Abril, último dia de representação poder-se-á dizer que durou três horas e meia com um intervalo de dez minutos.
Gosto da temática, ainda estou a digerir o texto e todo o simbolismo posto na encenação.
Uma primeira ideia gera esta premissa de que uma atitude de complacência e uma boa conduta ética são recusadas por uma sociedade manipulada pela dialéctica de Marco António.
As intenções verdadeiras de cada um não estão inscritas em lado nenhum, e acabam por ser as circunstâncias a ditarem leis.
No entanto, no meio de uma guerra sangrenta, o imprevisível: o reconhecimento da honestidade de Bruto, após sua morte.


A encenação é inteligente, todas as portas, todo o espaço envolvente é usado pelas personagens. Quando as personagens entram em cena vão encontrar os mantos dobrados em cima das cadeiras da primeira fila.
Os actores estiveram por momentos nas costas do público, nas laterais, com e sem falas. Tudo para dar o ambiente da Roma antiga.


O Teatro Municipal de S. Luiz é uma sala bonita, em talha dourada. O tecto tem uma pintura de anjos e por cima do palco a cabeça dourada de um leão.
A sala está repleta de cadeiras vermelhas, tem camarotes em vários níveis e talvez também galerias.
O átrio de entrada é alegre, os funcionários usam uma farda à antiga.
As pessoas do público tinham o aspecto, das pessoas que ao teatro costumam ir: A tal cultura do teatro, parece tentar à encenação do próprio corpo.

Com uma peça tão longa carecia antes uma boa refeição tomar. O lugar escolhido, repare-se que é mais do que um simples espaço, o Café S. Luiz é mesmo o lugar onde se juntam pessoas interessantes.
E a ementa é no mínimo criativa. A minha escolha recaiu numa bebida Indiana de Especiarias (leite quente com cardamomo, gengibre, canela e cravinho) e um Muffin de queijo e tomilho (doce de pêssego, figos e nozes). O serviço eficiente e de uma simpatia aprazível.


As passagens preferidas do Formiga:

"Tu dormes Bruto, acorda";


"Ai Cássio estou doente de muitas penas";

"Matar é palavra de ordem. Está na moda" (Bruto)

"Espanta-me que este homem de fraca figura possa estar à frente de uma mundo tão majestoso!"


DEDICO ESTE TÓPICO AO AMIGO ANDRÉ, QUE CONSTRUI UM BLOG ACERCA DO USO DO PODER: www.usodopoder.blogspot.com

Formiguinha